
Típica tipuana solitária remanescente da arborização original em Alto de Pinheiros – cercada de novos plantios de “árvores anãs”
Considero a tipuana (Tipuana tipu) a árvore mais comum na malha urbana formal paulistana. Um espécie exótica, originária da Bolívia e Argentina, que foi amplamente plantada principalmente até a década de 1960, sendo sua grande incentivadora a Cia. City, que loteou os “bairros-jardins” de São Paulo, como Pacaembú, Alto de Pinheiros, Jardins, entre outros.
De crescimento rápido e vigoroso, em poucas décadas viraram árvores de grande porte, que sombreavam generosamente e continuamente as ruas paulistanas, a ponto de virar uma espécie de identidade cultural da metrópole. Interessante que em São Paulo a tipuana parece crescer mais rápido e alcançar um maior porte do que em sua terra de origem.

Tipuanas na arborização de São Paulo na década de 1950: ainda jovens.
Com o passar dos anos e a transformação em meados do século passado da cidade em grande metrópole, o verde muitas vezes virou incômodo para alguns setores, como o a fiação elétrica, garagens e a transformação de residências em comércio e prédios, e as tipuanas foram sendo cortadas e mutiladas por podas equivocadas que permitiam a entrada de cupins, corte de raízes e muitas outras agressões, agravadas por sua madeira de baixa resistência.
Como resultado desse histórico, chegaram a velhice bastante comprometidas, e hoje temos um quadro interessante – e também preocupante – são atualmente as maiores árvores da malha urbana, e fazem enormes serviços ambientais como sombra, filtragem do ar, etc, e estão chegando ao fim da vida útil, do ciclo de vida. Como consequência, tivemos nesse milênio inúmeras quedas e acidentes com a espécie, que vem sendo removidas e mutiladas em grande velocidade.
Com isso, some a grande árvore, a cobertura vegetal ampla, a sombra – que constitui uma parte do problema. A outra é que não estamos repondo as velhas tipuanas com novas árvores de mesma biomassa vegetal ampla, a grande “copa urbana”. Canso de ver nas calçadas, onde existiam tipuanas, um “cimentado” escondendo na má-fé que ali havia uma árvore ou sua substituição por uma frágil muda de alguma espécie que jamais chegará ao seu porte, por melhores que sejam as condições de crescimento. São plantas diminutas como resedás e ipêzinhos-amarelo.
O resultado dessa situação será um verdadeiro “apagão verde” em poucos anos da principal espécie de cobertura verde da cidade, conforme forem caindo e cortadas as velhas e enormes tipuanas até o seu desaparecimento das ruas paulistanas – sem substituição à altura, mesmo no longo prazo.
Em minha opinião, temos excelentes espécies da Mata Atlântica (mais indicadas) para as substituir, só que temos que manter a ousadia do porte das tipuanas, isso é imprescindível, a despeito dos muitos obstáculos a sua existência na urbes, como fiação aérea, calçadas estreitas, traumas psicológicos coletivos, etc, etc. Não podemos esperar a cidade refazer suas calçadas, enterrar sua fiação, reeducar a população para mantermos a cobertura verde vital.
Exemplos de árvores de porte semelhante para substituir a tipuana, com características adequadas ao meio urbano (que claro, tem que ser avaliadas tecnicamente caso a caso) são nativas como copaíba (Copaifera langsdorffii), jatobá (Hymanaea courbaril), açoita cavalo (Luehea grandiflora), pau-viola (Cytharexyllum myrianthum), jacarandá paulista (Machaerium villosum), cabreúva (Myrocarpus frondosus), cedro-rosa (Cedrela fissilis), entre muitas outras. Mesmo as plantando em profusão agora nos bairros- jardins, não escaparemos de algumas décadas áridas, fruto da falta de planejamento.
Ricardo Cardim