De inegável valor para a pecuária brasileira, o capim-braquiária (Brachiaria sp.) apresenta vantagens importantes, como alta produtividade, valor nutritivo e abafamento de “invasoras” de pasto. Tais fatores levaram a intensa utilização das suas espécies por todo o território, principalmente a Brachiaria decumbens, no Bioma Cerrado. Essa última, também nativa da África, foi introduzida no Brasil recentemente – há duas décadas – e já se espalha por parte considerável do país.
Pode ser ótima opção para a pecuária, mas virou um enorme problema para a vegetação nativa de Cerrado, e com potencial de se tornar seu exterminador. A questão é a imbatível capacidade de competição do braquiária, que rapidamente elimina centenas de espécies de ervas, arbustos e árvores do Cerrado por sombreamento, rapidez e eficiência de propagação.

A esquerda, o capim braquiária invadindo, e na direita da estrada, o Cerrado ainda preservado. Parque Estadual do Juquery – SP.

Os tufos de braquiária (capim mais claro) invadindo o Cerrado agressivamente. Parque Estadual do Juquery – SP.
O capim-braquiária pode ser encontrado também invadindo praticamente todas as áreas verdes urbanas, e nas zonas rurais é hoje a espécie dominante da paisagem. Sua capacidade de “assassino de biomas” ocorre principalmente naqueles não-florestais, como o Cerrado, que tem bastante luz do sol disponível para sua capacidade competidora.
Como o Cerrado está cada vez mais fragmentado e cercado por áreas cultivadas, extensões importantes de reservas nativas estão sendo espontaneamente e silenciosamente substituídas pela espécie invasora, o que equivale quase ao seu desmatamento. Com a rapidez do sucesso da invasão biológica (poucas décadas) e sua eficiência, não será um pensamento irreal imaginar que o Cerrado pode desaparecer em grande parte do Brasil ainda neste século.

1 – o começo da invasão – entremeando as espécies nativas (a esquerda). Parque Estadual do Juquery – SP.

3 – a “cama” que o braquiária faz impede a luz de chegar ao solo e continuação da vegetação de Cerrado. É o fim. Parque Estadual do Juquery – SP.
Como resolver? Muita pesquisa para encontrar saídas que não prejudiquem os Cerrados preservados e nem a pecuária. Mas o problema é que nada vem sendo feito. Assim, certamente sobrará aos nossos netos extensos pastos de braquiária em todo o ex-Bioma Cerrado e perderemos um dos maiores ativos ambientais do mundo.
Ricardo Cardim
Olá Ricardo! Isso é uma praga! Na minha chácara na Serra das Cabras, tenho tentado acabar com a Braquiária, mas não acaba!! Onde reflorestamos bem fechado, acabou, pois ela não gosta da sombra, mas, sobe nos pés de café, nas videiras, no pomar. Invade tudo. Como acabar??? Cheguei até, contra os meus princípios passar veneno uma vez!!! Se vc tem uma solução, por favor me informe!
abraços,
Maria Cecília
Parabéns pelo artigo, muitas vezes culpam os caçadores pelo desapareciemnto de perdizes, codornas e cervideos quando a braquiária cria esse “deserto verde” e infelizmente por uma questão cultural essa imagem não nos grita aos olhos como as plantações de eucalipto.
Muitos parques americanos tomaram a iniciativa de envolver o público no controle de plantas invasoras, com resultados positivos. Placas informativas poderiam ser instaladas na entrada de parques como o Juquery, e folhetos distribuídos aos visitantes, que poderiam simplesmente arrancar tais espécies ao longo das trilhas. Para a remoção em áreas fora do circuito dos visitantes, poderiam ser realizados mutirões com voluntários, em conjunto com a guarda florestal e uma equipe científica para orientação. Será que haveria burocracia demais para implantar um sistema assim por aqui?
Triste realidade. O que pouco se fala também é que esta invasão da brachiária colabora com o aumento das queimadas em todo o país. Geralmente, o que queima quando se fala em queimadas são os pastos de brachiária e as áreas nativas limítrofes delas.
Além disso, uma medida imediata que ajudaria a diminuir a proliferação da brachiária seria a substituição do plantio de grama batatais ou outras gramas ao longo das rodovia (especialmente as em construção) por leguminosas ou outros tipos de vegetação. Já que estas outras gramíneas acabam ajudando a alastrar a brachiária, que quase sempre acaba substituindo as gramas plantas nos entornos das obras civis.
Infelizmente o avanço do Homem sobre a natureza tem levado áreas silvestres a um status de jardim o que exige um manejo contínuo dessas áreas.