
Vista da área em frente ao Parque Burle Marx – restos de um Rio Pinheiros que já teve curvas sinuosas, brejos e muita biodiversidade
Aquilo que na verdade todo paulistano frequentador do Parque Burle Marx, no Panamby – Zona Sul, pensava que era um pedaço do querido parque repleto de Mata Atlântica não passava infelizmente de uma farsa. A área com 5000 árvores é privada e não tem nada a ver legalmente com o parque… Mais uma pegadinha para o já tão sofrido verde e qualidade de vida da metrópole. E a sentença de morte da área já parece que está anunciada com a intenção de se construir ali mais algumas torres e shopping.

Dentro do tracejado amarelo, a área que está sendo ameaçada de desaparecer junto com sua raríssima fauna e flora
O absurdo dos absurdos em qualquer país civilizado. A convite do advogado Roberto Delmanto, que representa três associações de moradores da região, visitamos a área e elaboramos um laudo técnico sobre sua biodiversidade. O resultado foi totalmente surpreendente. Começou com a interessante mata ciliar (um tipo de Mata Atlântica que habita a beira dos rios, áreas alagáveis) repleta de espécies típicas das antigas margens do Rio Pinheiros quando ainda era selvagem, há cerca de 80 anos atrás. Exemplos são árvores como ingá, copaíba, jacatirão e figueira-brava.
Entre a mata, pequenos riachos cristalinos desembocavam em lagoas habitadas por peixinhos e pererecas, cercadas por brejos com plantas extintas na atual malha urbana, e tudo isso a poucos metros do poluído trânsito da marginal pinheiros e o seu finado rio. Saindo dos brejos chega-se a um campo com várias espécies típicas dos ameaçados campos cerrados de São Paulo, como a rara língua de tucano mirim (Eryngium elegans). Em meio ao capim, assustada, uma marreca-caneleira sai de cima de seu ninho com 11 grandes ovos, pássaro aquático que já foi abundante no Rio Pinheiros. Realmente um pedaço do passado da maior metrópole brasileira, uma área que reúne diversas paisagens naturais desaparecidas pela nossa intensa urbanização.
Além de ser obviamente protegida pela legislação devido a condição do terreno com seus riachos e lagoas, nada pode autorizar legalmente ou justificar economicamente a destinação do local senão como parte do Parque Burle Marx.
Abaixo, a conclusão de nosso Laudo:
“A área avaliada contempla diversos elementos importantes da biodiversidade original da cidade de São Paulo. Entretanto, dentre esses elementos, um deles apresenta imenso valor ambiental e histórico para os paulistanos: os trechos remanescentes das várzeas e florestas inundáveis do Rio Pinheiros, únicos sobreviventes dessa formação ecológica tão dilapidada.
Preservar tal área, em sua totalidade, é de suma importância como patrimônio ambiental, cultural e histórico que constitui, e se nos espelharmos na imagem da personalidade que batizou o parque adjacente ao terreno, Roberto Burle Marx, defensor e divulgador incansável da nossa biodiversidade, torna-se ainda mais emblemático e necessário o seu tombamento e preservação para aproveitamento das atuais e futuras gerações de paulistanos.”

Desenho da marreca-caneleira, uma ave do tamanho de um pato doméstico. Fonte: livro Fauna Silvestre – Quem são e ondem vivem os animais na metrópole paulistana

Brejo natural em frente a Marginal do rio Pinheiros, próximo aonde foi encontrado ninho e deve ser fonte de alimento da marreca.

Uma surpresa: orquídea nativa sobrevivente das antigas florestas do Rio Pinheiros. A árvore onde ela está já tem uma demarcação com um número suspeito.

Uma imponente figueira-brava da Mata Atlântica, uma Ficus organensis, da mesma espécie das emblemáticas Figueira-das-Lágrimas e Figueira do Largo da Memória

língua-de-tucano-mirim (Eyngium elegans) em frente ao Parque Burle Marx – planta rara típica dos antigos “Campos de Piratininga”

Um antigo sabor esquecido dos campos cerrados, o arbusto frutífero conhecido como pixirica (Leandra lacunosa)

Assim eram as margens dos rios paulistanos antes de serem sepultados sob o asfalto. Só sobrou ali, nesse pequeno terreno em frente ao Parque Burle Marx, Panamby, que agora pode virar um shopping
Para saber mais leia a matéria que saiu no Jornal O Estado de S. Paulo de domingo:
Ricardo Cardim
Algo precisa ser feito para conter isso…
E não há realmente nada que possa ser feito a respeito? São Paulo sempre me decepcionando.
RicardoEst programado para o dia 31 de maro s 17 hs. no Largo do Patriarca o”PRIMEIRO ATO EM DEFESA DOS PARQUES AMEAADOS DE SO PAULO”NO PODEMOS MAIS ACEITAR A DESTRUIO DE NOSSOS PARQUES!
Date: Tue, 11 Mar 2014 23:36:49 +0000 To: adp.maraschin@hotmail.com
Caro Ricardo, que maravilha ! Parabns !
Nesse final de semana estarei no Uruguai, voltando domingo noite.
No outro final de semana seria possvel ?
Estou no aguardo do oramento aqui para o prdio !
Se tiver uma pequena apresentao de fotos com o oramento, nos ajudaria bastante na Assemblia de Condminos !
Abraos
Roberto
Ricardo, tudo bem? Fiquei muito triste em saber dessa notícia, sobre a vegetação do parque. Outro dia fui conhecer a área e fiquei encantada, e também até curiosa, porque há uma casa antiquíssima protegida de invasão e por estar em estado lastimável e não há placa falando se é de algum tempo histórico. Gostaria de saber se não há nada, a mais, que possamos fazer para evitar que destruam a vegetação dessa área? Porque, sabemos que, às vezes, mesmo com laudos, os particulares conseguem liberações.. Talvez um abaixo assinado?
Olá!Boa tarde!
Parabéns pelo trabalho e coração que hoje muitos não possuem…Amar e preservar o que Deus nos deu!
Não resido em São Paulo, mas gostaria de ajudar em algo!
Alguém fez algum abaixo-assinado???Ou protesto???
Tenho uma irmã que reside em São Paulo e é triste ver que cada vez mais a fauna e flora são “empurrados” para bem longe de nós…fico a pensar…até quando???….agirão assim e até quando, ainda teremos natureza!
Quero ajudar!
Att, Ana.
Pingback: A última floresta e brejos nativos do Rio Pinheiros estão condenados a virar concreto em frente ao Parque Burle Marx no Panamby | Hum Historiador
E o que fazer?
Precisamos agir e divulgar esse absurdo!
A sociedade precisa ter consciência da importância da preservação desse tipo de área e cobrar ações do poder público. Somos todos responsáveis pela manutenção do parque.
Eh triste demais…..acabar com essa maravilha, uma das poucas que nos restam…
EST SE PLANEJANDO FAZER ALGO?
CARO RICARDO PEO ATUALIZAR MEU EMAIL: CANCELAR O zege2012@hotmail.com NOVO EMAIL : ZEGE2013@HOTMAIL.COM Abrao. Jos Geraldo Rosa Assuno. Date: Tue, 11 Mar 2014 23:36:47 +0000 To: zege2012@hotmail.com
Se ainda não foi feito, sugiro iniciar uma petição na Avaaz ou Change.org ou outro site do gênero.
Muito Bom, Parabens!!
Ricardo,
Não há nada que se possa fazer? Algum tipo de pressão pública está acontecendo? Sou biólogo do IB/USP e gostaria de pelo menos divulgar algum abaixo-assinado ou coisa parecida para os colegas lá no instituto.
abraço e parabéns pelo trabalho.
Olá Edegar, sim, toda a ajuda de profissionais é muito importante. Envie uma carta de apoio para o meu email, a fim de anexarmos aos documentos.
cardim@usp.br
abs!
Dá vontade de morrer.
Olá Ricardo. Sou geógrafo e estou finalizando minha tese de doutorado que indica que está área é realmente um remanescente da antiga várzea e baixos terraços do rio Pinheiros. Ainda não há nada publicado, defenderei a tese após agosto, mas posso disponibilizar algum material, tendo em vista a urgência do caso. Entre em contato!
Valeu Rodolfo, qualquer ajuda que puder dar a respeito da área por favor entre em contato pelo email:
cardim@usp.br
abs
Parece que as associações de bairro estão obtendo resultado… mas por quanto tempo? http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,mata-nativa-faz-obra-ser-barrada-na-marginal,1544075
Tem que ter pressão pessoal. Apoiar ao máximo os movimentos de defesa dos bairros e das áreas verdes. A questão ambiental pode ser prioritária com este mandato municipal. Houve recuos no Parque dos Búfalos e está havendo uma grande luta para criar o parque Augusta. Com o termo de compromisso para a criação do plano municipal de conservação e recuperação da Mata Atlântica, há mais um motivo para manter essa vegetação no Panamby também. Vamos pressionar que a vitória é garantida!
Ricardo, agora que passaram 2 meses, sabe dizer como estão os processos? Posso, ainda, enviar carta de apoio?