Quando se pensa que uma paisagem natural está protegida por uma reserva bem cercada e vigiada, é normal acreditar que está a salvo e permanecerá assim para as próximas gerações. Mas um inimigo muito poderoso e invisível para a maioria das pessoas, e até mesmo de muitos técnicos, está rapidamente eliminando a biodiversidade do cerrado como uma onda: os capins de origem estrangeira utilizados na pecuária e taludes de estradas.
Esses capins, principalmente os africanos braquiária (Brachiaria sp.) e gordura (Melinis minutiflora) quando chegam no cerrado (pelo vento, botas, pneus, esterco dos bois, etc.) conseguem rapidamente ocupar o espaço das plantas nativas por “afogamento” deixando-as sem a luz do sol e também liberando substâncias químicas que impedem a germinação de outras plantas.

O capim-gordura, de origem africana, forma uma espessa “cama” de folhas mortas, que isola a luz do solo e impossibilita a germinação e sobrevivência de outras plantas. Parque do Juquery, SP.
O resultado é a substituição de centenas de espécies por uma só, e a quebra da sobrevivência não só das plantas nativas que estavam lá há milênios, mas também dos animais, que ficam sem alimentos e o habitat que elas produziam, prejudicando toda a cadeia alimentar e causando extinções em massa.
No Parque Estadual do Juquery, uma rara e extensa mancha preservada de cerrado ao lado da metrópole, a situação atual é muito grave, e se nada for feito, certamente os capins nativos desaparecerão em poucas décadas, criando um pasto artificial no lugar da insubstituível paisagem atual, e sem valor ambiental.

Aqui o exemplo típico, o capim-gordura em toda a área emoldurado pelo braquiária nas margens da estrada, e nem sinal do antigo cerrado, que foi eliminado. Cena comum no Parque Estadual do Juquery.
Mesmo sendo considerada pela ONU a segunda maior causa de perda de biodiversidade no planeta, a invasão biológica ainda é negligenciada nas políticas ambientais brasileiras, e um dos preços a pagar pode ser a extinção de cerrados ainda preservados em muitos locais do Brasil, principalmente daqueles ilhados em meio a agropecuária e cidades (a realidade de grande parte das reservas). Preservar nesse caso, não é só um corpo de guardas e cercas.
Ricardo Cardim
Parabéns Ricardo, admiro e respeito o teu solitário trabalho!
Grande abraço.
Rachel
E o que poderia ser feito? Se as autoridades não estão fazendo o suficiente, será que não seria possível os interessados se unirem para uma ação voluntária, em parceria com o parque? Poderia ser criar um projeto temporário ou permanente coordenado por especialistas na flora nativa, visando a educação, a restauração e a valorização do local.
Ouvi falar na ideia de alguns parques no exterior envolverem a população no controle de espécies exóticas. Os visitantes têm permissão para arrancar, durante seu passeio, qualquer espécie exótica invasora previamente identificada e divulgada pelos especialistas.