Atrás de um importante cartão-postal da cidade de São Paulo, o Museu do Ipiranga, existe uma área verde que conserva árvores notáveis da Mata Atlântica paulistana, seja por seus grandes portes e idades, ou mesmo raridade das espécies – hoje dificilmente observadas em outros pontos da metrópole.
A história dessa floresta começa há mais de um século atrás, quando o antigo diretor do Museu do Ipiranga – então “Museu Paulista” – Dr. Ihering, preservou uma área de campos cerrados e matas para formar o “Horto Botânico do Ypiranga” com o objetivo de cultivar plantas nativas úteis e decorativas, entre outras ações para a divulgação da flora de São Paulo.
Com o passar das décadas, o local acabou se tornando uma densa floresta, e os seus campos nativos – os antigos “Campos do Ypiranga” – foram cobertos pelas árvores, se transformando no frequentado parque público atual. Abaixo um breve passeio contando um pouco sobre a sua vegetação nativa:

Dois cedros-rosa (Cedrella fissilis) centenários. Árvore da Mata Atlântica útil para arborização urbana e com madeira valorizada, que está presente em vários oratórios e imagens de santos das igrejas paulistanas dos séculos 17 a 19.

camboatã (Guarea macrophylla) – árvore típica do sub bosque da floresta paulistana e que apresenta frutos apreciados pelos pássaros. No Parque do Museu é muito abundante.

araucária (Araucaria angustifolia) com mais de cem anos de idade. Embora seja nativa na cidade de São Paulo, os dois exemplares existentes devem ter sido plantados pelo Dr. Ihering.

A copaíba ou pau-de-óleo (Copaifera langsdorffi) é uma árvore muito longeva e de madeira nobre que conserva óleo em seu interior. No passado foi muito comum onde hoje está a metrópole, porém é extremamente rara atualmente . Alimenta aves e é muito resistente aos ventos e tempestades, sendo excelente para arborização urbana.

Entre as copas, aparece a embaúba (Cecropia sp.) com suas inconfundíveis folhas – que até viraram logotipo de uma grande empresa de cosméticos. Árvore nativa típica, é alimento de preguiças e morcegos frugívoros, podendo ser usada com sucesso em jardins.

embiruçu (Pseudobombax sp.) – árvore de crescimento rápido e muito ornamental, com enormes flores brancas que florescem com a planta despida de suas folhas. No parque existem diversos exemplares em flor.

O tucum (Bactris sp.) é uma palmeira nativa na mata atlântica paulistana e de rara ocorrência na malha urbana paulistana. Sua principal caracterísitica são os seus poderosos espinhos, que impedem animais de a escalarem.

guatambu ou peroba (Aspidosperma sp.) – árvore da mata atlântica que foi muito explorada pela qualidade de sua madeira, e hoje quase desaparecida na cidade de São Paulo.

jatobá (Hymenaea courbaril) de grandes proporções. Os índios paulistanos do passado faziam canoas com sua casca.

E para finalizar, as nobres e belas canelas (Nectandra megapotamica). Árvores de madeira-de-lei e que participaram na construção das casas na época dos bandeirantes. Hoje sobrevivem em poucos lugares na metrópole, como o Parque Trianon e Buenos Aires. Os exemplares do Museu do Ipiranga são centenários e apresentam o típico tronco retorcido pela idade.
Para visitar: Museu Paulista da USP – Parque da Independência, s/n.º – Ipiranga – Zona Sul. Telefone.: (011) 2065-8000.
Ricardo Cardim
Ricardo, gostaria de compartilhar o trabalho “Aspectos Florísticos, Históricos e Ecológicos do Componente Arbóreo do Parque da Independência, São Paulo, SP”, disponível no link http://www.revsbau.esalq.usp.br/artigos_cientificos/artigo138-publicacao.pdf ,que apresenta muitas informações sobre este lindo bosque, mas infelizmente pouco conhecido e valorizado. A sua importância pela diversidade de espécies da flora e da fauna e pela sua localização em topo de morro (ambiente já tão ameaçado) aumenta proporcionalmente ao adensamento de seu entorno, representando atualmente a maior e principal área verde pública do Distrito do Ipiranga. Recentemente um projeto de ampliação do Museu Paulista, que ligaria o atual prédio do Museu a uma nova edificação a ser construída onde hoje se situa a unidade do Corpo de Bombeiros, previa a remoção de árvores do bosque localizadas logo atrás do museu, dentre elas paus-ferros centenários, com escavação de subsolo para construção da ligação entre os prédios e auditório, prevendo aumento de área impermeabilizada neste local. Parabéns pelo post e espero que essas informações contribuam para que este bosque seja mais valorizado e protegido!
Obrigado Simone pelo compartilhamento! Vamos ficar atentos a essa possível obra!
Abraços
Dizem que o nome do meu bairro – Capão Redondo – se deve a uma área com muitas Araucárias que deixavam o terreno onde estavam arredondado…