Quando o bairro do Butantã era somente grandes extensões de campos com vista para as várzeas margeando o ex-curvilíneo Rio Pinheiros, o Botânico Aylthon Joly se deparou com uma orquídea nativa naquelas paragens, a Habenaria secunda, crescendo em meio aos capins nativos. Isso foi na década de 1940, e desde então, não se tem mais notícia dessa planta na cidade de São Paulo.
Visitando semana passada os poucos remanescentes desses campos cerrados do Butantã, no atual Campus da Universidade de São Paulo, me deparei com um exemplar desta orquídea cercada por plantas invasoras como o capim-gordura (África) e as agaves (México). Estava sozinha, frutificando e liberando suas pequenas sementes na tentativa de continuar existindo.
O gênero dessa bela orquídea, de flores em cachos, existiu originalmente em vários outros campos nativos da antiga cidade de São Paulo, como Vila Mariana, Avenida Paulista, Ipiranga, Móoca, Vila Leopoldina e Higienópolis, conforme pesquisou o Botânico suiço Usteri, em 1911. Hoje, não existe mais sinal destas orquídeas nesses locais.
A área de campos cerrados da Universidade de São Paulo – futuro “Museu-Vivo” conforme a atual Reitoria – é, junto com o Parque Municipal Alfred Usteri no Jaguaré, um dos últimos trechos da vegetação que nomeou no passado a cidade de “São Paulo dos Campos de Piratininga”.
O Botânico Frederico Hoehne, defendia em 1925 a importância dos campos cerrados que também ocorriam no Bairro do Ipiranga (hoje extintos sob o asfalto e jardins franceses no Museu de mesmo nome) – “É lamentável, sinceramente lamentável, que o governo do Estado não queira conservar um maior trecho daqueles campos tão importantes para a história quanto para as ciências. Ainda o poderia fazer hoje, amanhã será sempre tarde, estarão perdidos para sempre e com eles perdida a única lembrança da natureza primitiva do ponto onde D. Pedro I deu o brado da independência.”
Hoehne, fundador de nosso Jardim Botânico, ainda relatava a grande biodiversidade desses cerrados no Ipiranga: mais de 200 espécies diferentes de plantas (!). Bem, não foi por falta de aviso que mais de 80 anos depois quase tudo se extinguiu na metrópole. A orquídea apresentada aqui é uma rara sobrevivente em meio as imensas alterações que fizemos na natureza original paulistana. Uma relíquia viva.
Os campos cerrados paulistanos precisam ser divulgados, protegidos e pesquisados como patrimônio da história e ciência, como já se dizia no começo do século passado. A maior cidade brasileira merece isso.
Ricardo Cardim
Parabéns pela descoberta!!!
Abraço,
Balboni
Valeu Balboni! abração
Pois é, Ricardo… Dá uma tristeza ver isso, uma espécie que se extingue. E muitos têm olhos, porém poucos veem; muitos têm voz, mas poucos falam. Continue vendo e falando em nome da natureza. Obrigada!
Olá Ricardo! Muito interessante o seu blog! Estamos aqui pela primeira vez…também temos um blog voltado ao meio ambiente, o vandaloverde.blogspot.com
Gostaríamos que nos seguisse para que possamos trocar ideias!
Um abraço
How interesting. I guess it is a wild orchid, so different from them I know, but also a bit similar.
Gostei muito do seu trabalho, sou engenheiro florestal e ambientalista tbem, tem que ter olhos muito bons para ver essa habenaria hein!!!!Dá para estimar a sua paixão pelo que faz somente analisando essa foto,heheheeh, eu tenho um grupo de habenarias fora de sao paulo, que tento proteger do corte anual de manutenção da rodovia D Pedro ! bem na época de florãção!!Parabens pelo trabalho, sensacional!!!!!!
Muito obrigado pela força Thiago!!! Abraços
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Olá Ricardo…
Excelente o seu trabalho e seu texto.
Parabens !
Obrigado Simone!!abraços
Como orquidófilo amador eu só tenho que ficar feliz. Poderiam cultivar in vitro para propagar a espécie.. Belo trabalho..parabens!
Obrigado Martini! Sim seria uma boa cultivarmos assim! Se souber de alguém que possa fazer isso, fale comigo por favor 7549-4988
abraços
Nosso Butantã já foi muito rico… Parabéns pelo blog e pela matéria. Grande abraço
Obrigado Leandro, abraços!
Que trabalho magnífico!!!!!!! Parabéns!!!!!!!! Estou maravilhada com tanta dedicação!!!!!!!
Muito obrigado Elza!! Abraços
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aparece na minha cidade, tem um cerrado cheio de orquideas que vc nunca viu,venha catalogar te ajudo a encontrar.
Ela, a Orquídea
(CPPR) Coletânea de poesia e prosa de Rosa
Ela vista de qualquer ótica é a planta mais exótica !
E mesmo longe, no deserto,
Ela encontra campo aberto,
E na exuberante natureza,
É a rainha da beleza,
E impunha o seu cetro,
E com pose de realeza !
É, o símbolo da fertilidade,
E nas suas duas polaridades,
Em yng e Yang, são perfeitas,
É a flor da divindade,
E com certeza ela foi feita,
E para todo a humanidade !
É, compreender tão nobre flor,
E em seu peculiar valor,
E não há explicação precisa,
Ela sabe contornar o calor,
E se o orvalho não a serenou,
Ela sabe viver de brisa !
É a flor da vida longa,
E como se ela pegasse ponga,
E na vida só reinar,
Ela sabe encontrar a sombra
E inteira se refrescar,
Em essência e aroma !
É uma história colorida!
É dos deuses a preferia !
Em espécies infinitas,
E a todos da guarida,
É de todas a mais bonita,
E também a preferida !
Encontrei uma orquídea baunilha, por enquanto é a única da sua espécie, em mata atlantica na zona leste. Tem interesse em conhece la ou protege-la? Deixei meu email nos dados obrigatórios.
Olá Lincoln, bacana, tem como enviar a foto para cardim@usp.br ?
Abs
Ricardo, precisamos muitos como você !