Ao saber da polêmica gerada pelas obras do novo Parque dos Museus na Universidade de São Paulo (USP) resolvi ir até o local e visitá-lo. Na parte mais visível dos trabalhos de movimentação de terra, somente exemplares de árvores pioneiras exóticas e invasoras, como a leucena e tipuana – conforme descrito no licenciamento ambiental – entretanto, na parte do futuro Centro de Convenções o cenário se alterou bastante. Ali, várias espécies do cerrado paulistano ancestral, praticamente extintas na metrópole, como a fruta-de-pombo (Erythroxylum sp.), gabiroba-do-campo (Campomanesia sp.), araçá-do-cerrado (Psidium guineense), murici-do-campo (Byrsonima intermedia) e duas espécies diferentes de língua-de-tucano (Eryngium sp.) sendo uma que eu nunca havia visto antes, estavam na beira dos taludes dragados pelas retro-escavadeiras. Cenário que seria impensável em um país que conserva sua biodiversidade.
Isso se deve ao fato de a legislação e o senso comum só considerarem vegetais do porte de árvore como importantes, deixando toda uma infinidade de formas de vida nativas como arbustos, cipós, orquídeas, bromélias e capins relegados à destruição sumária. Assim, vegetações como o cerrado – composto em sua maioria de ervas e arbustos – ficam descartáveis, mesmo sendo considerado mundialmente um hot spot.
Nas imediações da movimentação de terra, diversos exemplares de velhos muricis-do-campo e fruta-de-pombo semi-arrancados tentavam rebrotar. Com uma enxada resgatei cerca de 20 exemplares, que já foram plantados em recipientes de mudas para serem depois replantados. A Reitoria da USP, alertada do fato, se mobilizou e paralisou a obra, e irá transplantar os exemplares ameaçados e preservar áreas remanescentes do entorno, além de uma outra área perto do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) já pleiteada por aqui em setembro do ano passado leia aqui. Assim, serão criadas novas reservas e um museu-vivo para apresentar a paisagem primitiva da maior metrópole brasileira junto aos museus tradicionais.

Aspecto dos campos em volta da obra: paisagem típica da vegetação de cerrado aberto, com o capim barba-de-bode.

Aqui, justifica-se o antigo nome da área "Campos do Butantã", onde Butantã em tupi significa "terra dura, socada" como visto entre as plantas de cerrado - uma paisagem ancestral.

Uma população de fruta-de-pombo ainda jovem cercada por outras plantas típicas do cerrado paulistano.

Resgatei alguns exemplares mais expostos pelas escavações. Muitas plantas do cerrado, como esse murici-do-campo da foto, apresentam um caule subterrâneo (xilopódio) como defesa aos incêndios. Estão agora em vasos recuperando-se para serem replantados.
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Ricardo Cardim
***** POST N° 250 *****
Parabéns por todo este seu valioso trabalho. Dia destes passamos pelo local e foi decepcionante ver toda aquela área em trabalho de terraplanagem.
Perdeu-se muito do encanto daquele canto da área da USP entre o campus e a cidade.
Quando vi, só pensei: Como isto está sendo possível?! Quais terão sido as razões para aquela obra?
Agora você me esclarece e mostra um pouco das resultantes de seu trabalho.
Um abraço de matinhos. Leda
Olá Leda, muito obrigado! É realmente preocupante e nos põe a pensar – até quando vamos construir em SP? ??? abraços Ricardo
Muito legal Ricardo! Você deveria ganhar uma medalha por isso que faz por nós e pela cidade. É reconfortante ver que existe gente assim em meio a tanto desgosto com nossos representantes.
abraço
Gervásio
Obrigado pela força Gervásio! abraços
Olá Ricardo, como vai?
Estou fazendo uma pesquisa sobre o uso de espécies exóticas invasoras em reflorestamento ciliar.
Gostaria de saber se vc tem algum material sobre o provárzea, que incentivou o desmatamento
destas áreas em todo o país na década de 70.
Muito Obrigado
Rubens Marcelo
Cajobi – SP
Rubens,
conheço a questão, mas não possuo infelizmente material sobre o tema.
abs
Olá Ricardo,
realmente me emociono com esse trabalho incansável que voce anda fazendo pela natureza.
Me pergunto somente, como pode isto acontecer logo na área da USP? Ainda mais, acerca da Botanica, onde um aluno vem a ser o primeiro a descobrir esse importantíssimo remanescente natural?
Vitor/Berlim
Olá Vitor,
Nem me pergunte… Quem fica mais triste com isso sou eu…
Gostaria de compartilhar com voces um video , do programa Antena Paulista(Globo) ,que tem muito em comum com esta materia .
http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1758860-7823-CIDADE+DE+NOVA+ODESSA+INAUGURA+BELO+JARDIM+BOTANICO,00.html
( ou na BUSCA :antena paulista Nova Odessa )
Entre outras coisas fala do Butiazinho mirim , Butia leptospatha (Arecaceae) , a menor palmeira do mundo , especie que durante 50 anos foi dada como extinta . Foi redescoberta e salva num terreno `baldio’ no Paraguai !!
Sou funcionário do IB e tanto qto possível procuro produzir mudas. Se precisar conte comigo e com minhas mãos.
Carlos
c.e.mamede@gmail.com
Obrigado pela disposição Carlos! abraços
Olá, não o conheço mais fiquei impresionado com seu conhecimento em plantas, e o valor que você da para elas, sou muito curioso sobre plantas e tenho em minha casa muitas plantas medicinai, gostaria de saber se conhece o cipo-butá, dizem que e bom para labirintite.
sem mais para o momento, e na coompreeção de vossa, saudações.
Valdir.
Olá Valdir, não conheço… Abs.