Compensação ambiental não – compensável

No bairro do Morumbi, o cerco dos edifícios aos últimos remanescentes de Mata Atlântica - Até quando resistirão?

Complexidade compensável?

 

Imagine trocar grande parte do terreno de Mata Atlântica ancestral do Parque Trianon da Avenida Paulista por algumas milhares de mudas de árvores de espécies nativas genéricas de todo o Brasil. No lugar de uma floresta original, milenarmente complexa, em toda a sua biodiversidade típica local, com centenas de espécies vegetais de diferentes hábitos como cipós, arbustos, ervas, orquídeas, bromélias, etc… surgir um paliteiro de mudas magrelas vindas de viveiros distantes e de matrizes não-identificáveis nas sobras do terreno desmatado em volta de edifícios recém-construídos. Parece no mínimo, surreal. 

Esse cenário de catástrofe ambiental está acontecendo intensamente em várias cidades brasileiras. Na obrigação de compensar legalmente o corte de vegetação nativa urbana para mudanças no uso do solo – geralmente novos edifícios  –  plantar outras árvores no lugar não é trocar seis por meia dúzia. Em metrópoles que destruíram quase toda a sua rica cobertura vegetal original como São Paulo isso simplesmente não é compensável. Mal sabemos toda a complexidade desses ecossistemas, muito menos como reproduzí-los a contento. Sem mencionar que uma floresta ou cerrado não é composto somente de árvores, que é apenas uma parte das suas formas de vida.

Mas o pior é a irreparável perda genética dessas populações de plantas e animais que evoluíram ao longo de milhões de anos entre si  e as condições locais típicas – um patrimônio inestimável e insubstituível. Um plantio será sempre apenas um simulacro humano de uma complexa obra natural – um ambiente artificial como os prédios que acompanham.

Quase nada sobrou na metrópole paulistana da vegetação original, sejam campos cerrados ou florestas,  e os poucos remanescentes deveriam ser no mínimo tombados – e não construídos – para que, senão agora,  ao menos no futuro as próximas gerações conscientes possam usar esses fragmentos para reproduzir suas plantas e reintroduzí-las de volta na malha urbana através da arborização urbana e paisagismo,  possibilitando uma cidade com o verde e meio ambiente realmente sustentáveis.

 

Mata Atlântica original da cidade de São Paulo - centenas, senão milhares de formas de vida, em interações milenares. Como podem ser compensadas?

 

Ricardo Cardim

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Sobre Ricardo Cardim

Paisagista e Botânico www.cardimpaisagismo.com.br www.arvoresdesaopaulo.com.br
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9 respostas para Compensação ambiental não – compensável

  1. Roberta disse:

    Boa noite Ricardo, tudo bom?

    Moro em BH e pesquisando na Net sobre um problema com 2 brotos de raiz de árvoresfrutíferasque mantenho, me deparei com seu site. Diante do enorme volume de informações que vc disponibiliza na Net, resolvi escrever-lhe para saber se vc pode me auxiliar.

    Os brotos de raiz que mantenho, são de jabuticabeira, uma com quase um metro e outra com uns 15 cm. A menor perdeu todas as folhas há uns 10 meses e eu pensei que fosse por causa do transplante de local e fiquei tranaquila pensando ser um evento passageiro. Ontem percebi que os ramos do caule estão secando. A base, seu tronco, continua verde, mas eu penso que ela está morrendo. Ela está plantada em um vaso e eu faço regas diárias, uma vez que aqui em BH já estamos há mais de 100 dias sem chuva. O local onde ela fica é de sol no período da tarde.

    A outra, a maior, está no chão, também com sol da tarde, e procedo com ela da mesma forma que com a do vaso. Acontece que ela também começou a secar suas folhas e algumas já até cairam. Anda está repleta de folhas, mas estou com receio dela seguir o mesmo caminho da outra.

    Onde posso conseguir ajuda e orientação sobre como devo proceder com estas duas árvores aqui em BH ou em qq outro lugar Ricardo?

    Muito obrigada e parabéns pelo seu trabalho e pela boa vontade em dividir seu conhecimento com todos.

    Roberta Coelho

    • Ricardo Cardim disse:

      Olá Roberta,

      Obrigado. Vc precisa procurar um técnico em sua região. Pode ser broca.

      att

  2. Thiago de Andrade disse:

    Boa tarde!

    Em primeiro lugar gostaria de parabeniza-los pelo trabalho que vem fazendo, pelo pouco que li no site de voces, parece que estão ajudando muito.

    Venho pedir na verdade um favor, preciso de uma referencia em realocação de arvores, extrair e plantar em outro lugar, tenho 1 coqueiro e uma palmeira em meu quintal, porem com a reforma que será realizada ambos serão removidos, e não quero ter que cortalos, por isso preciso de uma referencia em realocação.

    Desde já fico agradecido.

    Att.

    Thiago de Andrade.

    • Ricardo Cardim disse:

      Obrigado Thiago!

      Recomendo procurar uma empresa de paisagismo acostumada a esse tipo de serviço, que é plenamente possível

      att

  3. Carina disse:

    Amig@,

    Perdemos uma batalha: as casas da Rua Carlos Petit visadas pela incorporadora certamente irão ao chão em breve. Mas a luta não acabou! Neste post, uma homenagem ao quintal que me inspirou à ação, com imagens que em breve ficarão apenas na memória, e um chamado a prosseguirmos na luta por uma cidade mais saudável e um modo de vida mais viável para todos!

    Clique no título “Um adeus… mas a luta continua” para ler mais e ver as imagens.

    Um abraço,

    Carina Lucindo
    http://www.raizesesementes.com.br

    Um adeus… mas a luta continua!
    salvemosquintais | 23/09/2011 às 18:36 |

    Um adeus… mas a luta continua!.

    Tive que abandonar o meu amado quintal antes do tempo. Uma daquelas “escolhas sem escolha” da vida, como diria Julia Butterfly Hill. Até hoje quando ouço o canto do sabiá ao entardecer dói meu coração. Todas as tardes de calmaria passadas naquele pedacinho de vida no meio do concreto; os cafés da manhã na janela observando o sabiá que roubava a ração dos cachorros enquanto eles permitiam veladamente; e as manhãs de sábado preparando a terra para o que seria a minha horta orgânica – que nunca se concretizou. (…)

  4. Harrison disse:

    Olá. Meu nome é Harrison, 26 anos, estudante.

    Vi recentemente uma notícia sobre o projeto de criação do Parque dos Museus dentro da USP, projeto já aprovado pela Prefeitura e pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.

    Na falta de melhor expressão: como assim??

    É sério isso? Mais de mil árvores serão cortadas – cortadas! não se falou nem em transplantes – e fica por isso mesmo? Ninguém está fazendo nada contra o projeto? Gostaria muito de saber como está fluindo esse projeto. Acredito que essa não seja uma ação tolerável, não há vantagens em museus se forem construídos a custo de tantas árvores dentro da cidade!

    Não sei sua posição em relação a isso. Fico agradecido desde já com o que puder me explicar e orientar (caso haja o que fazer contra o desmatamento).

    • Ricardo Cardim disse:

      Harrison

      Também fui informado recentemente dessa situação lamentável, vou verificar .

      abs

    • Fiquei pasmo com essa também. É o poder público dando “o exemplo”.

      Um abaixo-assinado contra essa aberração:

      http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N14633

      E tem o RodoAnel Norte que vai derrubar 112 hectares de Mata Nativa, o equivalente a 160 campos de futebol… Eles dizem que vão “compensar”… Mas não vejo como pode-se compensar a derrubada de mata nativa e todo o ecosistema ali existente. Neste caso, ainda existem animais em risco de extinção…

    • Ricardo Cardim disse:

      Com certeza! Valeu Fernando, abs

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