Dia da árvore – homenagem aos muricis-do-campo paulistanos

Botanicamente falando, o murici-do-campo (Byrsonima intermedia) não pode ser considerado uma árvore, está mais para um arbusto. Essa planta frutífera típica dos cerrados também não apresenta a majestade óbvia de um jequitibá ou mesmo a importância cultural do pau-brasil, mas é aqui a homenageada nesse dia das árvores como lembrança de que toda a vegetação, seja ela capim, arbusto, cipó ou árvore, é de fundamental importância para a nossa existência e saúde, assim como de todas as outras formas de vida.

O murici tem outro aspecto de grande destaque – ele é um arbusto nativo dos antigos campos naturais da cidade de São Paulo e no passado cobriu fartas extensões de onde está a atual metrópole. E talvez, justamente por não ter sido lembrado ou valorizado, sem a visibilidade de uma frondosa árvore, que foi sendo derrubado e sumindo do seu lar herdado em milhares e milhares de anos.

O resultado foi que no começo deste século XXI ele está praticamente extinto na cidade. A única população descendente desse passado dentro da malha urbana está em um pequeno trecho na Cidade Universitária da Universidade de São Paulo (USP) onde atualmente lutamos para que seja transformada em sua última reserva.

Abundante produtor de belas flores, cobria os campos paulistanos de amarelo-ouro na floração, mas isso foi antes que a cidade elegesse a azaléia originária do Japão como flor símbolo de São Paulo. Seus esquecidos frutinhos de casca brilhante são comestíveis e já foram muito apreciados por aqui e faziam parte da dieta principalmente das crianças e de diversos pássaros e animais nativos.

Aprender a plantar o murici não é fácil. Dentro do nosso viveirinho tentei de todas as formas possíveis, segui a literatura científica disponível, solos diferentes, iluminações, mas nada de suas sementes germinarem. Reprodução por estacas (galhos) também não formou mudas sadias. E o engraçado é que no seu local nativo – o cerrado da USP – ela aparece espontaneamente em uma fartura de novas plantinhas. Salvá-lo realmente não parece simples.

Quantas formas de vidas ancestrais – inclusive úteis – nós perdemos por só enxergarmos o óbvio?

Ricardo Cardim

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Sobre Ricardo Cardim

Paisagista e Botânico www.cardimpaisagismo.com.br www.arvoresdesaopaulo.com.br
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8 respostas para Dia da árvore – homenagem aos muricis-do-campo paulistanos

  1. dalva disse:

    A preservação de uma espécie se faz necessária principalmente quando ela representa a sobrevivência de toda uma cadeia alimentar.

  2. Jorge F. disse:

    ótima percepção Ricardo. Quantas formas de vida vegetal realmente desaparecem pela falta de atenção e divulgação nossa, pesquisadores?

    abs

    Jorge

  3. olá Ricardo

    através da Amigo das Árvores de São Paulo e através de sua pessoa, Ricardo Cardim , cumprimento todos aqueles que anonimamente, animada e diuturnamente cuidam defendem preservam divulgam o amor as árvores -testemunhas vivas da História e das histórias – deste nosso amado planeta !
    abraços mil alegrias e realizações boas a todos sempre
    Lavinia

  4. Renato disse:

    Parabéns pelo texto, Ricardo. Com relação à germinação, por acaso você tentou utilizar alguma técnica de quebra de dormência? Talvez algum tipo de choque térmico ajude. Por sinal parece que já existe literatura sobre germinação in vitro desta espécie: http://www.scielo.br/pdf/cagro/v28n5/v28n5a12.pdf

    • Ricardo Cardim disse:

      Obrigado Renato! Foi esse paper mesmo o que li, tentei o choque térmico com água quente, mas não obtive resultado… Para a germinação in vitro infelizmente não possuo o material necessário. É uma planta difícil…

      abraços

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