No coração da cidade de São Paulo, quem diria, existe uma árvore que já viu muita coisa passar. Entre araribás, sapucaias e passuarés da antiga mata do Caaguaçu, “mata grande” como os índios a chamavam, um habitante (quase) famoso assiste impassível o desenvolvimento de nossa cidade, testemunha de outros tempos, o jequitibá-branco (Cariniana estrellensis).
Atualmente conhecido como parque do Trianon ou Tenente Siqueira Campos, esse trecho de vegetação nativa encravado no meio dos prédios ainda conserva o gigante na sua parte esquerda de quem vem pela avenida Paulista.
Quase junto a Alameda Casa Branca, no limite do parque, está localizado em uma pequena depressão úmida do terreno, praticamente escondido pelas outras árvores, mas seu enorme diâmetro do tronco revela a quem passa ali que está sob um habitante nobre de nossas florestas.
Espécie outrora presente em diversas matas da cidade, hoje restrito a poucos lugares, essa árvore é um exemplo da exuberância da vegetação que existiu no planalto de Piratininga, entre seus campos e florestas. Nascida provavelmente antes da urbanização do local, assistiu a passagem das tropas de muares que atravessavam o espigão da Paulista em direção a Sorocaba e a construção dos palacetes dos endinheirados barões do café.
O jequitibá sempre esteve no imaginário popular brasileiro, geralmente o rosa (Cariniana legalis) como aquele que tempos atrás caiu em Campinas na frente do palácio batizado com seu nome ou o que fez a avenida Faria Lima desviar seu curso. Seu irmão menor, o branco, costuma não ser tão alardeado, mas ocupa também o topo das florestas ainda preservadas e impressiona pelo porte e beleza quando bem desenvolvido.
Suas diminutas e brancas flores contrastam com seu tamanho, e em algumas florações mais abundantes, sua copa, repleta de milhares de flores se torna branca, principalmente na parte superior, dando a impressão de que “nevou” em florestas com muito indivíduos (coisa muito rara hoje em dia, pela falta de matas).
Um outro nome do jequitibá atualmente em desuso e desconhecido por grande parte das pessoas é de “cachimbeiro”, denominação essa devido aos seus frutos (um pixídio lenhoso) parecerem a cabeça de um cachimbo, o que levou no passado a muito morador dos sertões e escravos a adaptarem uma taquarinha oca ao fruto furado e usarem como cachimbo de pitar fumo.
Justamente por causa do porte, o jequitibá, tanto o rosa quanto o branco, não podem ser plantados na cidade sem um prévio planejamento do local, com risco de prejudicar edificações e outras estruturas urbanas, mas ele precisa ser mais disseminado em áreas adequadas de São Paulo, para que as futuras gerações de paulistanos também possam conhecer uma amostra do que foi nossa vegetação e ter o prazer de passear na sua majestosa sombra.
Ricardo Henrique Cardim
Amigos das Árvores de São Paulo
muito legal, observava essa árvore há muito tempo e pensei que ninguem reparava nela! parabéns pelo site. Aliás gostaria de saber onde posso comprar mudas da espécie, vcs poderiam informar?
abracos
Renato
Parabéns, que árvore espetacular! E hoje é o dia dela (aliás para mim é tds. os dias). Só conhecia de nome, Tenho paixão por árvores e tb. por São Paulo! Meu desejo é plantar as que estão em extinção! Abraços.
Obrigado Mílian, essa é uma boa opção! abraços